O filme clássico com Keanuu Reeves a respeito de um universo distópico onde seres humanos são usados como meras baterias possui uma gama enorme de reflexões filosóficas relacionados a diversas teorias filosóficas, mas o foco central da obra é o que nos traz os maiores questionamentos.
A primeira e grande pergunta que nós temos é “você prefere viver sua vida normalmente ou saber a verdade?”, e é um dos grandes focos da obra essa dualidade, entre a vida dos que não conhecem a verdade e os que a conhecem e tentam salvar os que não conhecem. Mesmo entre os que já estão libertos, nos é induzido a crer no segundo e terceiro filme a teoria de que podem haver mais camadas da Matrix, e que cada nova camada derrubada nos aproximaria ainda mais da verdade. Então, até onde você está disposto a entrar na toca do coelho?
Ok, mas o que é o mito da caverna?
O mito da caverna é o que nos cerca no dia a dia, é a verdade e a mentira imersos em nossa sociedade, e é o diálogo platônico que introduz a todo o estudante à disciplina de filosofia. Você prefere saber a verdade ou viver uma doce mentira? Você prefere o conhecimento ou o mito? Você quer ver a luz do fogo e as sombras ou prefere a luz do sol e o mundo real? A escolha que você fizer sempre será definitiva, e você será incapaz de voltar atrás. Então, se você estiver disposto a ser um ser puramente focado na verdade, faça como Alice, segure minha mão e mergulhemos ainda mais fundo na toca do coelho…
Ok, mas o que é o mito da caverna[1, 2, 3]?
Imagine uma caverna, onde existe uma enorme fogueira bem no centro dela, e ao redor dela, passam pessoas com estátuas e/ou gesticulando, gerando sombras nas paredes do ambiente sombrio. Acorrentados em uma parede, existem muitos prisioneiros, que nunca viram nada que não as sombras da caverna, e acreditam que aquele é o mundo real. Eles até dão nomes às sombras, se emocionando com umas e odiando outras. Uma existência meio triste, mas eles não percebem, já que essa é a realidade em que vivem.
Um belo dia, um dos sujeitos se liberta, e percebe que tudo o que viu e que achava que era real, na verdade era uma mentira. Ele então, vai até a porta da caverna.
A luz solar, realidade com a qual ele nunca havia se deparado antes, o cega, fazendo-o permanecer por um tempo parado, até que seus olhos se acostumem. Após isso, ele percebe que a realidade do mundo era completamente diferente da realidade da caverna, tudo era mais vivo, mais cheio de cor e de vida, e que tudo o que seus sentidos haviam mostrado para ele era uma completa mentira.
Agora, entremos no dilema: o prisioneiro aqui apresentado deveria voltar e avisar seus amigos sobre o mundo lá fora, podendo ser taxado de louco e até mesmo morto por aqueles dentre os prisioneiros que considerem as ideias dele perigosas, ou ele deveria continuar e ver até onde a verdade vai?
A caverna representaria, nesse caso, o mundo dos sentidos, onde podemos ser enganados, como por um ilusionista, ou mesmo pela própria realidade, mas o mundo das ideias sempre será o mundo da verdade, pois é lá que reside a verdade. Uma ideia é o que mais se aproxima da verdade, e é por isso que você deve se libertar do mundo dos sentidos, deixar de se contentar apenas com o que vê e ouve e tentando sempre ir atrás da verdade através das ideias, se libertando dos mitos criados pelo mundo dos sentidos
Além de Matrix, podemos estabelecer uma relação entre o mito, tanto de forma implícita quanto de forma explícita, a outros personagens da cultura pop, como:
Marik Ishtar (Yu-Gi-Oh)
Em sua juventude, Marik era o homem destinado a se tornar o guardião da tumba do faraó Atem até o momento que ele retornasse, sendo forçado por suas tradições a abrir mão de sua vida. Tudo o que Marik conhecia era a tumba, e apenas isso. Porém lhe foi dada a oportunidade de conhecer o mundo exterior, o que o levou a não se conformar mais com sua situação.
Marik, após conhecer o mundo fora da tumba, abriu mão de seus valores e até mesmo uniu forças com um espírito maligno para nunca mais ser dependente do faraó ou de sua família, até mesmo roubando um objeto de poder. Mas me diga, você seria capaz de abrir mão do mundo inteiro após vê-lo para ficar sua infância inteira em uma caverna?
Não entrando em muitos detalhes da obra, Marik acaba envolto em outras mentiras, e se envolvendo com seres ainda piores, apenas para não ser obrigado a cumprir o destino de permanecer como apenas mais um escravo do faraó, esperando uma vida inteira dentro de uma tumba pelo retorno deste.
Ok, mas e agora?
E agora o quê? Você simplesmente se conforma com o que dizem à você? Ou é apenas assim que eles querem que você aja? Busque a verdade, saia do mundo dos sentidos, e vá até o fundo da toca do coelho, em busca do mundo das ideias, e da verdade. A Matrix não é uma prisão para o seu corpo, é uma prisão que você não pode tocar e nem ver. Uma prisão para a sua mente.
Referências
[1] – História do Mundo – O Mito da Caverna
[2] – Brasil Escola – Mito da Caverna e Matrix
[3] – Platão. O MITO DA CAVERNA. 1ª Edição, Edipro, 2019.